Periferia e consumo de informação

O texto “Tudo nosso, nada nosso“, publicado no site da revista CartaCapital e escrito pelo romancista, contista e poeta Ferréz, dá destaque para a inclusão social. “Aposte no caos se não houver inclusão”, diz Ferréz. O autor ainda ressalta: “A periferia há muitos anos está defasada de algo que atraia o jovem. Não temos meio nenhum de entretenimento para alguém que hoje completa 14 anos.”
As palavras escritas no último dia 25 de janeiro, momento em que a periferia está muito presente na mídia, atiçam questionamentos e reflexões. Sim, falta entretenimento para o jovem de 14 anos e para os integrantes das outras faixas etárias também. Da mesma forma que falta educação de qualidade. Entretanto, há algo que não está distante dessas pessoas. O acesso à informação. Seja de boa ou má qualidade. Antes, mesmo com poucos recursos, era comum uma família ter aparelho de TV em casa. Hoje ela consegue ter acesso à internet. Logo, possui uma ferramenta que permite acesso a um número maior de informações.
No dia 31 de janeiro, a Folha de S.Paulo anunciou que vai publicar às sextas-feiras textos sobre a cultura na periferia. As publicações podem ser encontradas no Mural, blog mantido por correspondentes comunitários e fruto de uma parceria da Folha com o Internacional Center for Journalism. Haveria um espaço assim se a população periférica não consumisse informação?
Este mesmo veículo mostrou a história de um jovem que foi aprovado na Universidade Federal de Sergipe, mas não tinha condições financeiras de pagar a viagem para fazer a matrícula. Por causa da matéria, algumas pessoas se mobilizaram e ajudaram o garoto, que vivia numa favela localizada no distrito do Grajaú.
Problemas em diversos setores
Grajaú é o distrito mais populoso da cidade de São Paulo. De acordo com a projeção realizada em julho de 2013 pela Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), a região apresenta uma população total de 369.471 pessoas, sendo que a predominância é de mulheres. Localizado no extremo sul da capital, às margens da represa Billings, Grajaú ilustra bem o artigo de Ferréz.
Falta lazer para tanta gente. No distrito há dois CEUs da prefeitura, um no Cantinho do Céu, próximo a áreas mananciais, e outro no Jardim São Pedro. O circo escola que oferecia atividades relacionadas à dança, teatro, circo, artes visuais e esportes fechou no primeiro semestre de 2013 por falta de recursos. De acordo com a matéria publicada no portal G1, mais ou menos 1.300 crianças eram atendidas. Além disso, há apenas um hospital de grande porte, que atende desde o morador “grajauense” até o de Parelheiros.
A população ainda sofre pela lotação exagerada do transporte público. O trem que pertence à linha Esmeralda da CPTM e fica no terminal Grajaú, local em que está a maioria das linhas de ônibus, sai como uma lata de sardinha em horários de pico e quando ocorrem problemas, da maneira que uma reportagem do Fantástico mostrou num domingo de janeiro. Uma das principais avenidas do lugar, a Dona Belmira Marin, apresenta trânsito complicado até aos fins de semana. É estreita e não possui corredor de ônibus. Ao percorrê-la é possível ler em muros frases de protesto contra o aumento da passagem e contra a Copa. Além de convites para manifestações por melhorias no transporte.
Em junho do ano passado, enquanto a região central enfrentava uma das manifestações em que houve violência, a Dona Belmira Marin tinha lojas roubadas, ônibus incendiados e um grupo de jovens gritando palavras obscenas contra o governo Alckmin. Nada saía do terminal Grajaú e o povo precisou caminhar muito para chegar em casa durante à noite. Sendo que algumas pessoas precisaram descobrir novos caminhos, pois parte da avenida estava interditada pela polícia. O caso não teve muito espaço na mídia. Já as manifestações por moradia, iniciadas no segundo semestre de 2013, alcançaram um maior número de aparições na imprensa. No entanto, não gerou nada analítico.
Entre os problemas destacados, que vão além do Grajaú, existe uma população atenta ao que está acontecendo na sociedade. Isso não quer dizer que a maioria já esteja apta para avaliar e refletir a respeito. Afinal, a educação permanece em decadência. Todavia, está acompanhando as mudanças dos últimos anos e deseja ocupar espaços que antes pareciam inalcançáveis. E os veículos de comunicação são personagens em destaque nesta história.
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Priscila Pacheco é estudante de Jornalismo

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