Eduardo Campos, governador do Estado de Pernambuco, é um dos três
principais candidatos à presidência do Brasil. Socialista, quer
ultrapassar o Governo de Dilma Rousseff pela esquerda. Pragmático, faz a
apologia da eficiência e da gestão privada.
Neto de Miguel Arraes, uma figura histórica da resistência à ditadura
militar (1964-1985), Eduardo Campos pegou num partido de segundo plano,
o Partido Socialista Brasileiro (PSB), e, através de uma estratégia de
alianças com o PT de Lula, foi consolidando a sua presença no terreno
político do Brasil.
Hoje, o PSB controla uma bancada no Congresso de quatro senadores e 26
deputados federais e o governo de seis estados. Eduardo Campos rompeu a
aliança com o PT, que perdurava desde 1989, e parte para a disputa das
presidenciais de Outubro em aliança com Marina Silva, que, em 2010,
obteve 20 milhões de votos. Para ele, o PT de Lula já não existe. O
Governo de Dilma tornou-se epicentro de um bloco “conservador”. A sua
entrevista em exclusivo abre o Ano Grande do Brasil no PÚBLICO.
A desaceleração da economia do Brasil que se verifica depois de
2010 é um problema passageiro ou o sintoma de uma crise profunda que
vai exigir respostas difíceis no futuro?
Nas últimas três décadas, até 2010, o Brasil viveu três ciclos muito
importantes. Um ciclo da redemocratização, que teve como símbolo a
campanha que faz agora 30 anos, a campanha das Directas Já; em
sequência, tivemos um momento de grande mobilização social que foi o
impeachment [destituição] do primeiro Presidente eleito do Brasil
[Collor de Mello], que abriu a possibilidade da transição para uma
economia estabilizada, nos governos dos presidentes Itamar Franco e de
Fernando Henrique Cardoso [FHC]. Depois, o Brasil foi presidido pelo
Presidente Lula, que fez uma transição social, que colocou o tema da
desigualdade social na agenda brasileira. Daí em diante, vivemos nesses
três últimos anos um tempo bem diferente. Um tempo em que há uma
situação que limita o crescimento. Internamente, não se fez a agenda
mais complexa, que permitisse o Brasil viver esse tempo de crise. Pelo
contrário.
Era preciso uma alteração na política do Governo?
Era preciso ter uma visão de longo prazo, operar com a sociedade um
diálogo para permitir uma narrativa segura sobre o aprimoramento desse
modelo económico, com regras claras, com tranquilidade para os
investidores, com animação para alavancar investimentos. Nós tivemos um
crescimento que vem muito do crédito, que fez do consumo o grande motor
do crescimento, da melhoria da renda dos mais pobres. Nos oito anos de
FHC, o crescimento do PIB ficou em torno dos 2%, nos oito anos do Lula,
em torno de 4% e, agora, está a ficar abaixo dos 2%. Depois de um
crescimento com inclusão, com a melhoria da qualidade de vida, agora há
um travão do crescimento, porque não conseguimos alavancar os
investimentos privados porque, por um momento, passou a sensação de que
as regras se poderiam alterar e os investidores começaram a ter uma
posição de maior precaução.
Quer isso dizer que uma das explicações para a actual situação
da economia tem por base o privilégio concedido ao aumento do consumo em
detrimento do aumento do investimento produtivo?
Quer o consumo quer o investimento são importantes na equação
brasileira. O acesso ao crédito ainda precisa de ser melhorado para se
combater a desigualdade social no Brasil. Mas também temos de apostar no
investimento. Uma coisa não é excludente da outra. Eu acho que a gente
descuidou de fazer no investimento o mesmo processo que conseguimos
fazer com o consumo. E isso teve impacte nos resultados, ao que se somou
a percepção de que a qualidade de vida não continuou a melhorar, como
era impressão nacional ao longo desse processo de construção da
democracia, estabilidade económica e inclusão.
Quais serão, no seu entender, as medidas prioritárias para que se regresse a um rumo de crescimento e de satisfação?
É preciso ter segurança na narrativa de longo prazo, que passe a ideia
de um modelo de desenvolvimento económico, segurança jurídica para quem
investe aqui, a disposição para melhorar a qualidade de vida dos
brasileiros. Uma narrativa que aposte na qualidade dos serviços públicos
brasileiros, com investimento muito forte em educação. Se há algo que
sintetiza, entre os serviços públicos, a possibilidade de se melhorar
sistemicamente a sociedade, tanto do ponto de vista económico como
social, é o investimento muito forte na educação, focado em uma década.
A Presidente Dilma diz também que a educação vai ser uma das
suas prioridades para um próximo mandato. O que é que o separa dos
outros candidatos às presidenciais?
Não sou eu que me digo diferente, são as pessoas que me vêem de forma
diferente. Porque nós temos uma tradição progressista, de esquerda,
democrática, de quem ajudou a construir a democracia nesse país, de quem
resistiu à ditadura, de gente que ajudou a transição democrática e a
transição económica que o Brasil viveu e que sempre esteve na base de
sustentação do projecto que levou Lula à presidência da república. Desde
1989 que o meu partido fez parte da frente Brasil Popular. Ajudámos a
construir esse projecto. Eu tive a honra de ser ministro do Presidente
Lula no seu primeiro mandato, como também a Marina Silva, a minha
companheira da Rede de Sustentabilidade. E nós, diferentemente de outros
que negam os avanços que ocorreram na sociedade brasileira, fizemos
parte e ajudámos a construir esses avanços. Há muita luta acumulada,
muitos acertos que permitiram que nesses últimos anos o Brasil pudesse
viver um ciclo que o melhorou. Mas agora é preciso construir um novo
ciclo que permita consolidar as conquistas feitas e que abra portas a
novas conquistas. O que a gente percebe é que hoje a base que sustenta o
Governo tem uma hegemonia claramente conservadora, de partidos que
nunca estiveram nem directamente envolvidos na construção democrática,
nem na construção da estabilidade económica nem tiveram nenhum link de
preocupação com o social.
Refere-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro [PMDB, que é o principal aliado do PT no Governo]?
A base virou um centro conservador. Até o PMDB progressista está fora
desse processo. Aqueles ícones do velho PMDB, da luta contra a ditadura,
estão a contestar a direcção partidária. O que eu percebo é que é
necessário que surja no país um novo pacto social, que é desejado, que
não nega as coisas que foram construídas, que dialoga e que constrói um
novo pacto político e que possa levar o Brasil ao crescimento com
redistribuição de renda. O objectivo central é melhorar o país porque
ele começou a piorar, e se nós não rompermos essa lógica, vamos assistir
às conquistas de ontem serem destruídas no quotidiano desse ano e do
próximo.
Reclama-se progressista, e o seu partido reivindica um legado
socialista, mas a sua governação no Estado de Pernambuco mereceu o
elogio da revista The Economist por ter introduzido métodos de gestão
privada, amiga do mercado. Não há aqui uma contradição?
Eu sou um socialista que sabe fazer o serviço público funcionar para os
que precisam do serviço público. E os que precisam do serviço público
querem que as escolas funcionem, que a escola funcione em tempo integral
[com horário repartido pela manhã e pela tarde] como na maioria das
escolas de Pernambuco. Nós somos um estado pobre entre os 27 estados da
federação, mas nós temos mais alunos em tempo integral do que o Estado
de São Paulo. Então se essa escola tem metas a cumprir e se os
professores recebem bónus, melhor para os professores e melhor para os
alunos. Se temos hospitais que precisam de cumprir um determinado número
de procedimentos, que se medem, melhor para o cidadão que vai para a
rede pública, porque evita pagar, quando ele não pode, um seguro privado
de saúde. Se indicadores de violência medidos melhoraram, melhor para
os cidadãos, que se sentem seguros. Nós somos o único estado do Brasil
no qual os indicadores de violência melhoraram ininterruptamente nos
últimos sete anos. Todos os outros, em algum ano, tiveram aumento da
violência. O Governo com ferramentas de gestão que são utilizadas pelas
grandes empresas beneficia os mais pobres, os excluídos. Não há
contradição. O nosso Governo foi premiado pela ONU pelo modelo de
gestão, por ser considerado um modelo de política pública de referência.
É isso que a The Economist reconhece, como reconheceu os acertos do
Governo Lula.
Faz uma distinção clara entre o Governo de Lula e o de Dilma. Porquê? O que têm de diferente um e outro?
Não sou só eu que faz essa distinção. Essa distinção é feita pelos
brasileiros, que esperavam que, com a eleição da nova Presidente,
houvesse avanços ao que havia sido construído pelo Presidente Lula. Na
verdade, esses avanços não só não vieram como, em alguns casos, houve
recuos: concentração de rendimento em algumas das regiões mais pobres do
país, desaceleração do crescimento económico e algumas políticas
públicas perderam força, como a reforma agrária ou a qualificação
profissional. E, sobretudo, houve um recuo na capacidade de diálogo.
Como avalia as políticas sociais contra a exclusão, como o
Bolsa Família. O Estado deve continuar a financiar os mais pobres?
Propõe mudanças de fundo ou apenas ajustamentos?
Eu venho da região mais pobre do país, fui eleito governador com o voto
das regiões mais pobres do Nordeste. Eu tenho uma consciência da
importância dessas políticas. Muitas dessas políticas foram copiadas de
programas daqui, de governos que o meu partido fez em Pernambuco. Por
exemplo o programa Luz para Todos, lançado pelo Presidente Lula e
inicialmente tocado pela então ministra das Minas e Energia [Dilma
Rousseff], foi feito nesse estado pelo último governador do meu partido,
que foi Miguel Arraes…
Seu avô…
… Exactamente. Se vir o programa Bolsa Família, ele já existia em
Pernambuco, só que naquela época chamava-se Chapéu de Palha. Programas
como o Minha Casa Minha Vida existiram aqui nos primeiros mutirões
[acções colectivas] que o Brasil viu de construção popular nas nossas
favelas. A primeira experiência de crédito popular foi feita pelo Banco
do Estado de Pernambuco. Então eu tenho um compromisso de vida com essas
políticas públicas, que melhorem, que transformem a vida dos que mais
precisam.
Os impostos já representam 37% do PIB e vários especialistas
dizem que, quando se inverter a tendência demográfica das últimas
décadas, o país vai ter um problema com a previdência. Está na hora de a
reformar?
Nós fizemos uma reforma da previdência no primeiro ano do Lula e ainda
nem usámos os espaços que essa reforma produziu na sua integridade para
melhorar as contas da previdência. Antes de pensar numa reforma da
previdência, precisamos de usar os espaços que já nos foram dados por
essa reforma. Nós precisamos, sim, de estimular o surgimento da
previdência privada, para que se possa com isso formar uma massa de
poupança interna que suporte a alavancagem dos investimentos e que nos
torne menos dependentes da poupança externa.
Mas não faz sentido, por exemplo, aproximar a idade média da
reforma, que hoje ronda os 55 anos, aos padrões das economias avançadas?
Os problemas provocados pelo envelhecimento não chegaram cá na mesma
proporção com que chegaram à Europa. Ainda temos uma população jovem,
temos 20 anos de janela demográfica, temos que fazer esse processo por
fases e não chegámos ainda à fase de alterar a idade da reforma. Temos
tempo para fazer essa reforma, que não é singela. A Europa sabe que a
reforma da previdência não é um tema fácil.
O Banco Mundial ou a OCDE dizem que um dos problemas do Brasil
resulta do seu excessivo proteccionismo económico. Apesar de ser um
gigante, o país exporta apenas 13% do seu PIB e importa 14%, o que é
pouco comparado com, por exemplo, Portugal [cerca de 40% do PIB]. Se for
eleito, vai abrir o país ao exterior?
Claro que a gente tem um grande objectivo, que é incrementar o comércio
exterior. Esse é um dos espaços que precisamos de ocupar para retomar o
crescimento económico. Depois dessa grande crise que vive o capitalismo
desde 2008, há mudanças muito significativas no comércio exterior. Há
um reposicionamento dos grandes blocos económicos em busca de um outro
tipo de política comercial, bem distinto do que vimos até ao início dos
anos 2000. E o Brasil não pode ficar excluído disso. Um passo importante
para o Brasil é ver de outra maneira a sua relação com Portugal, uma
relação que deve sair do recurso estratégico para ir para a prática na
integração com a União Europeia (UE). O tratado de integração da UE com o
Mercosul se faz mais e mais necessário nesse momento para que possamos
ver incrementada a nossa balança comercial.
O Brasil alterou a sua cautela em relação ao investimento
privado e lançou um amplo programa de concessões de obras públicas que
envolve agentes privados. Concorda com essa estratégia?
Sim. Se você chega à conclusão de que precisamos de mais portos, mais
estradas, mais aeroportos, mais serviços de saneamento, e se o Estado
não tem como fazer sozinho, tem de chamar a ajuda do parceiro privado.
Mas isso não é adiar os custos públicos para o futuro?
Não, de certa forma é antecipar investimentos que estão sendo devidos à
sociedade. Vamos esquecer a qualidade de vida de uma criança que vai se
tornar adulta numa rua pisando no esgoto apenas porque se ficou com um
preconceito político? Se coube nas contas e dá para antecipar e pagar em
30 anos, por que vou esperar 30 anos juntando dinheiro para que uma
criança pegue doenças numa rua com esgoto a céu aberto? Para quem vive
numa casa com saneamento, ou vive nos debates fora dessa realidade, pode
até fazer sentido, mas para uma mãe que vê seus filhos pisando no
esgoto, ela quer que seja feito quanto antes.
O crescimento dos salários na última década, não apenas o
salário mínimo, esteve sempre acima da produtividade, o está a retirar
competitividade à economia brasileira. Como pensa resolver este
problema?
Investindo em infra-estrutura, investindo em inovação. Podendo fazer
investimentos em energia que favorecem um custo energético mais baixo,
fazendo uma política fiscal correcta e coerente com a política monetária
para que a gente possa ter juros mais baratos. O país foi sacudido por
duas décadas de uma espiral inflacionária terrível, que levou a uma
massa salarial extremamente deprimida. O Brasil precisava de melhorar o
perfil de distribuição de rendimento. Foi o que ocorreu e não vamos
imaginar que, achatando os salários agora, vamos resolver o problema da
produtividade. Nós vamos resolver o problema buscando condições para dar
à economia uma produtividade melhor, garantido os investimentos que
precisam de ser feitos, garantindo uma educação de melhor qualidade.
Há personalidades do PT que dizem que o senhor se precipitou na
sua candidatura, que deveria ter esperado por 2018, porque nesse
momento seria apoiado pelo próprio PT.
Se a nossa candidatura era boa em 2018, por que não é boa em 2014? A
menos que o Governo fosse bem. Se o Governo está pior do que o que
existia antes, então eu estou a ver aí pessoas que, na verdade, estão a
recomendar a nossa candidatura. Se é bom para 18, por que não é bom para
14? Só não seria bom para 14 se houvesse um Governo que estivesse a ser
aplaudido pela população, mas o que a gente percebe é que, no seio da
sociedade brasileira, há um desejo de câmbio.
As sondagens não são muito indicadoras desse desejo…
São, são. Porque só está a olhar para sondagens quantitativas, onde
Dilma luta com dois candidatos desconhecidos (Eduardo Campos e Aécio
Neves). Está comparando uma pessoa superconhecida, exposta a um grande
esforço de media com dois candidatos que jamais disputaram uma eleição
fora dos seus estados. Se fizer grupos de pesquisa qualitativa, se
isolar numa amostragem aqueles que conhecem todos os candidatos ou
pretensos candidatos, vai ver qual é o resultado de 2014.
Ser um nordestino não é uma desvantagem num sistema político
historicamente dominado pelo “café com leite” dos estados ricos (Minas
Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul)?
Pode ser uma vantagem também. O Brasil pode estar a fim de quebrar os
paradigmas da velha política e dar oportunidade a alguém da periferia.
Tudo o que está a acontecer no Brasil é a periferia pedindo a
oportunidade para ser ouvida. Eu e a Marina viemos da periferia: ela vem
do Norte [Estado do Acre, na Amazónia profunda] e eu venho do Nordeste.
Nós entendemos de gente.
Em Pernambuco, onde o PT de Lula teve votações na ordem dos 75%
e onde o senhor foi reeleito com 82,5%, quem vai ganhar as eleições?
Vamos esperar para ver.
Mas qual é a sua expectativa?
A de ganhar a eleição.
A herança do seu avô vai ter influência na projecção da sua imagem em termos nacionais?
Veja, na verdade, ele é uma referência. Todas as pessoas que têm
interesse em conhecer-me vão saber que eu venho de uma origem política
que tem o seu respeito. Sabem que somos gente que sempre fez política
com seriedade, em torno de princípios, de forma honrada, que respeitou
os recursos públicos, que fez da vida uma luta para a construção de uma
sociedade sem as injustiças que ainda marcam a vida brasileira. As
pessoas sabem que nós tivemos um exemplo muito bonito, que nos honra a
todos.
É favorável a políticas desenvolvimentistas. Não tem receio de
que essa sua forma de estar na política possa colidir com o ecologismo
da sua aliada Marina Silva, que saiu do Governo de Lula por causa de uma
barragem? E o seu progressismo em questões sociais não vai entrar em
choque com um certo conservadorismo que Marina apregoa em questões como,
por exemplo, a do aborto?
Acho bom que a gente conviva com a diferença. A sociedade brasileira
pensa de forma distinta sobre muita coisa. Faço militância política
desde que me entendo de gente e sempre aprendi a ter opinião sobre as
coisas e a respeitar a opinião dos outros. A convencer e muitas vezes a
ser convencido. Isso é muito bom. Quanto ao desejo de fazer, as pessoas
que me conhecem sabem que eu gosto de planeamento, que eu gosto de
montar equipas e de fazer acontecer. Mas ninguém no mundo hoje pensa em
fazer nada que não esteja tocado pelo compromisso com a sustentabilidade
e o meio ambiente. Acho que a Marina traz para este conjunto a
contribuição de uma geração de jovens que se preocupa com a questão da
sustentabilidade, da mesma forma que os jovens se incorporaram na
fundação, nos anos 40, do PSB estavam preocupados com o socialismo
democrático. Esse encontro é um encontro que tem larga aceitação na
sociedade. Não vejo ninguém a achar que esse encontro não tem
consistência.
Os três prováveis candidatos com mais projecção nacional à
disputa da presidência são uma trabalhista [Dilma Rousseff], um
social-democrata [Aécio Neves, do Partido da Social Democracia
Brasileira] e um socialista [Eduardo Campos]. O que explica esta
singularidade brasileira de não haver candidatos de Direita fortes?
Eu acho que isso ainda é consequência da derrota do golpe militar de
1964. Não se restabeleceram ainda. Os resultados do tempo do arbítrio e
do autoritarismo da Direita terminou por fazer com que o campo
conservador brasileiro agisse na política de forma envergonhada. Que
descesse para a política nos estados para se proteger nos espaços de
poder municipais e estaduais e pudesse assistir à transição democrática.
Depois, o chamado presidencialismo de coligação, inaugurado com a
Aliança Democrática [que elegeu Tancredo Neves, em 1985], sequenciado
pelo Presidente FHC e pelo Presidente Lula depois da crise de 2005,
quando ele incorporou uma frente mais ampla de partidos, fez com que
esse campo conservador se adequasse à disputa política por pedaços do
poder, municipais, estaduais e em alguns lugares na esplanada dos
ministérios. É claro que isso não é uma questão que se aguente no tempo.
Conhece Portugal?
Conheço e gosto muito de Portugal. Tenho muitos amigos em Portugal.
Tem amigos políticos em Portugal? O seu avô tinha.
Sim, o Mário Soares, o Manuel Alegre... Conheci muitos ainda em outros
tempos, por acompanhar o meu avô em reuniões políticas, em que ele
recebia missões do PS e do PCP, intelectuais, professores e escritores.
Mais recentemente, na minha função no Parlamento, na presidência do PSB
ou quando fui ministro do Presidente Lula, tive contactos com
autoridades do Governo. Tenho aqui uma colónia portuguesa muito
expressiva e muito querida, muito próxima de nós e que torce para que
sejamos capazes de trazer Portugal para mais perto do Brasil e o Brasil
para mais perto de Portugal, para que nos possamos ajudar mutuamente.
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