Sucesso com sons 'pesados', cantor O Poeta surpreende: 'Não curto música poluída

Sucesso com sons 'pesados', cantor O Poeta surpreende: 'Não curto música poluída'
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
“Escuta o Poeta, outro sabor”. É como esse bordão sendo disseminado pelos paredões de Salvador que Jhon Ferreira vem firmando seu nome no circuito musical. Com músicas chicletes, como “Bunda no Paredão” e “Saco de Pão na Cara", o projeto iniciado há um ano já colhe os resultados e subirá pela primeira vez no palco do Salvador Fest, que acontece neste domingo (15), no Parque de Exposições. Na ocasião, gravará o primeiro DVD no Palco Pagodão e contará com as participações dos cantores Márcio Victor, da banda Psirico, e Lincoln, da Duas Medidas. “Não esperava esse sucesso. Não vou dizer que está sendo rápido, mas um ano é pouco tempo de trabalho. Geralmente, o músico demora muito mais para ter resposta do trampo. Aprendendo aqui e ali, consertando os erros, estamos indo. Tá massa”, iniciou em entrevista ao Bahia Notícias.

Filho de Fofão, músico que integrou por anos o grupo Araketu, Jhon é cria de Periperi, subúrbio de Salvador, mas se considera abraçado pela turma de Simões Filho. Ele se mudou para a cidade quando iniciou a trajetória na música na banda Chapa, em que ficou por dois anos. “Queria ser igual a meu pai, fazer algo similar. Tocava bateria, violão na igreja, só não gostava de cantar. Acho que tem o lance de foco que colocam no cantor e isso me assustava. Fui impulsionado pelos colegas e amigos. Queria só escrever músicas e tocar. As pessoas falavam que tinha uma voz legal e fui criando amor”, lembrou.

Para ele, as pessoas se identificam com seu trabalho por conta do “swing, letras que falam daquela realidade, da sacanagem e saliência”. “Como a gente não fala muita ‘putaria’, a galera que gosta de um som mais limpo, embarca também”, avaliou. Inclusive, o apelido “O Poeta” surgiu do próprio público. “Quando era vocalista da banda Chapa, já tinha intenção de mudar as letras das músicas e gostava de implantar algo diferente. O próprio público me chamava de ‘O Poeta da Putaria’ e abracei aquela ideia. Aos poucos fui trazendo para mim e aquilo foi se propagando”, explicou. Da mesma lógica, surgiu o bordão “Outro Sabor”:

“Sempre arrumo o cabelo no mesmo lugar e falava para ele: ‘Só corto aqui porque é outro sabor’. Precisamos prestar atenção à voz da galera. Depois veio ‘escuta o poeta, outro sabor’. Nesse momento, quando percebemos que a galera gosta, empurramos para dentro, né?”, brincou. Inspirado por Léo Santana, Tony, Bruno Magnata e Márcio Victor, Jhon já entendeu que se quiser expandir o trabalho para além dos “paredões” vai precisar “limpar” alguns dos seus versos, considerados pesados. “A gente vem lapidando. Tudo tem um início e aprendemos que certos tipos de letras não entram em alguns lugares, mas sem pressa e agonia”, adiantou.
“Faremos música limpa naturalmente... a gente vai se encaixando nos lugares, a galera vai pedindo. Afinal, a voz do povo é a voz de Deus. É o povo que decide. Às vezes, o contratante não quer, mas o público pede e o cara muda de opinião, pois podemos lotar a casa. Profissionalmente, me policio, penso ‘tem que tirar isso aqui, aquilo lá’, mas não para agradar alguém. Tenho que gostar e confesso que não curto música poluída”, surpreendeu.  

Apesar de versos como “Só porque tu é feinha pensa que eu não meto vara, mulher tu tá enganada. Vem com o poeta que comigo é sem cutcharra, saco de pão na cara” estarem em um dos seus últimos lançamentos, ele acredita que já está em um processo mais tranquilo no conteúdo. “Na verdade, já tem um tempo que a banda não está tão poluída com as letras. Antes era muito mais pesado. ‘Bunda no Paredão’, ‘Ela Gosta de Preto’, ‘Saco de Pão na Cara’ são mais tranquilas”, defendeu. Quantos às críticas, divertiu-se: “Continuem. Amo críticas. Se ficarem falando só coisas boas, a mente não abre para nada diferente”.

UNIÃO DO PAGODE
Para Jhon Ferreira uma das soluções para melhorar o cenário da música baiana é a união e, diante disso, tem se sentido abraçado pelos “grandes do pagode”. “Acredito que eles não estavam apoiando as pequenas por conta das letras, que eram agressivas. Por isso, as bandas limpas não encaixavam as músicas nos repertórios. Acho que depois que melhorei minhas letras, os caras deram uma apoiada legal. Se continuar nessa pegada vai crescer todo mundo”, vibrou.

Ao mesmo tempo que conta com o apoio de suas inspirações, o cantor comemorou a produção de seus contemporâneos, como O Maggo e A Invasão. “O Maggo é meu amigo. Juninho, A Dama... Só não consigo acompanhar mesmo a onda por conta da rotina. Não estou conseguindo ouvir nada. É tocar, dormir, acordar, entrevista, ensaio. Acho que tem uma galera chegando com músicas boas. Se continuar trazendo músicas mais de duplo sentido vai dar muito certo”.

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